segunda-feira, 7 de julho de 2014

O primeiro semestre do ano para o cinema brasileiro emite sinais de que 2014 tem uma ótima safra de filmes para além das produções de comédia da Globo Filmes e de cunho social, que parecem lugar comum para o nosso cinema. Depois do ótimo HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO, que de mansinho e com poucas cópias fez público de quase 100 mil pessoas, outros dois grandiosos filmes chegaram aos cinemas nesse período: ENTRE NÓS, de Paulo Morelli; e O LOBO ATRÁS DA PORTA, de Fernando Coimbra, que comento rapidamente:



ENTRE NÓS

Um grupo de amigos no auge dos vinte e poucos anos se encontra para um final de semana numa casa de campo e dez anos depois voltam para relembrar os momentos do passado. Apesar de a sinopse soar como um clichê já muito explorado, o filme traz boas sensações. Ele guarda um pouco da aura dos bons seriados televisivos nacionais, que muita gente ainda vê com maus olhos, mas que é o grande apreço da obra. Passando por dois atos, nos anos 1992 e 2002, o diretor Paulo Morelli cria elementos que conectam as ações nos dois intervalos de tempo: os acontecimentos do passado são levados diretamente para o futuro e aos poucos sendo reveladas, sem pressa. O texto entre aos amigos é delicioso e os atores embarcam em atuações que, mesmo carregadas de valores dramáticos de assuntos que adentram temáticas como morte, depressão e solidão, parecem transmitir nos rostos a leveza da juventude – especialmente resgatadas no segundo ato. A câmera passeia por entre os personagens e a paisagem, estabelecendo um vínculo delicioso entre eles.



O LOBO ATRÁS DA PORTA

Avaliado pela Liga dos Blogues Cinematográficos como o melhor filme que estreou no Brasil nos seis primeiros meses deste ano, O LOBO ATRÁS DA PORTA é um espetáculo de produção, um acerto em praticamente tudo: roteiro, direção, montagem, elenco. O filme acompanha a história do trio de personagens vivido por Milhem Cortaz, Leandra Leal e Fabiula Nascimento, que se envolvem em jogo de traição e infidelidade matrimonial, em uma narrativa incrivelmente atemporal, que poderia ser transposta para qualquer lugar do mundo sem perder seu valor. O diretor e roteirista Fernando Coimbra envolve o espectador de tal forma que, mesmo parecer se distanciar do suspense em meio ao drama e a comédia das situações, o cria em um grau tenso e marcante. A câmera ávida de sedução – em diversos níveis – busca o colo e a nuca de Leandra e não se abstém de cortar testas e cabeças para mostrar um violento duelo psicológico entre ela e Milhem, na sequência mais angustiante do filme (ainda mais que a agoniante caminhada rumo ao desvendar do último acontecimento). Um filmaço imperdível. 

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