quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Com a epopeia de Adèle no alardeado AZUL É A COR MAIS QUENTE, que arrebatou a Palma de Ouro em Cannes na edição de 2013, o diretor Abdellatif Kechiche implode sua protagonista de dentro pra fora, durante os anos de amadurecimento sexual e sentimental da jovem, próximo aos dezesseis-dezoito anos, revelando sua atração por mulheres. Do primeiro olhar de canto de olho para uma amiga da escola, passando ao primeiro beijo ("de brincadeira"), a constatação de que é diferente da maioria das garotas de sua idade a leva ao afastamento dos meninos, ao distanciamento da família (mesmo morando debaixo do mesmo tempo) e ao recolhimento que busca respostas que quase imediatamente a levam a um mundo inicialmente desconhecido - personificadas por Emma, a menina dos cabelos azuis - que formará o restante de sua personalidade, Se a naturalidade da proposta de Kechiche ao lidar com um assunto tão tabu de forma tão sincera choca com as provocantes, longas e corajosas cenas de sexo que a interprete Adèle Exarchopoulos e sua companheira de tela Léa Seydoux fazem, isso também justifica a necessidade do autor em tratar o assunto nesses termos. As duas atrizes brilham, e não foi por acaso que pela primeira vez o festival francês consagrou duas atrizes com a Palma de Ouro (além do filme).

Como o título original indica ("La vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2") o diretor e roteirista propõe uma construção narrativa sem segmentação para os dois capítulos da vida da personagem, que poderiam ser chamados de antes e depois de conhecer Emma. Mas de fato, o que temos são três momentos em cena: a descoberta da sexualidade da personagem, seu romance e o pós-relacionamento. É tudo lindo e de uma coragem formidável, que como todo grande filme, merece ser recebido de peito aberto e sem pressão. 

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Para ver: AZUL É A COR MAIS QUENTE (La vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2, 2013, de Abdellatif Kechiche). Com Adèle ExarchopoulosLéa SeydouxBenjamin Siksou.
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